quarta-feira, 12 de março de 2008

Sonhar com um passado sem regresso

Posso ter saudades do passado, por vezes penso nos momentos felizes que passei e tento trazê-los para o presente. Mas é uma tarefa impossível e ingrata. Não há nada de mais penoso que queremos viver de fragmentos perdidos pelo tempo.
Há a tendência para cair na frase feita: “Se eu soubesse o que sei hoje…”. O que é profundamente errado porque não há vitória sem luta. A vida é feita de recuos e avanços, nada se consegue sem determinação e coragem para enfrentar as maiores adversidades, só assim cresceremos e adquirimos experiência. Os erros que podemos ter cometido no passado serviram para não voltarmos a comete-los. Não existem regras para sermos felizes, cada caso é um caso e quanto menos influências exteriores sofrermos melhor. Temos de agir conforme os nossos padrões, o que poderá ser correcto para os outros para mim poderá estar profundamente errado.
Pessoas extremamente influenciáveis raramente acertam, porque seguem instintos alheios. Temos de ser imunes aos estímulos exteriores mas por outro lado devemos ser transparentes como água, não ingénuos mas sermos coerentes com os nossos princípios.
Hoje só quero viver este momento. Sonhar com um passado sem regresso, porque enquanto sonhamos vivemos, é um sinal de que houveram recordações passadas que nos dão alento para ambicionarmos um futuro mais risonho. Não faz mal sonhar por momentos, agora tornar a vida num sonho é uma loucura. Temos de saber distinguir a fronteira do real do imaginário. Mas há uma excepção, quando criamos um objecto de arte essa fronteira é diluída e é quase inexistente. Atravessamos todos os limites porque queremos criar algo nunca antes visto. O que é um pouco irreal. Nada se cria tudo se transforma. A arte pode ser uma constante reciclagem. A originalidade surge quando um novo ponto de vista sobre o mesmo objecto se concretiza. A realidade observada poderá ser a mesma mas a forma como a transpomos para o papel é única e pessoal. A interpretação e a maneira peculiar como vemos o objecto é nossa e por consequência a sua projecção nunca é igual ao do nosso colega.
Temos de apostar na diferença, essa aposta tem de partir de nós, é algo que possuímos interiormente, por mais que contemplemos um mundo repleto e marcado pela diferença, se não tivermos receptivos para captá-la não adianta visualizá-la, teremos de estar bem connosco próprios para poder assimilá-la, interiorizá-la e nesse momento afirmar que não olhamos mas que pela primeira vez vimos.

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